Viva as pequenas cidades do Chile

18 de março de 2018
Yngrid Corsini

Sabe aquele lugar mundialmente conhecido, que você se planeja para ir meses antes, pesquisa tudo sobre o local e morre de ansiedade para chegar o dia da viagem? Pois é, não é o caso de La Serena ou Vicuña, no Chile. Pequenas cidades escondidas entre a Cordilheira dos Andes, pacatas e que possuem seu próprio ritmo cotidiano, que se quer se altera com sua presença, que são um ótimo exemplo de destinos anônimos, mas cheios de magia.  

Eu estava morando em Santiago na época, e um feriado se aproximava. Uma amiga me convidou para conhecer La Serena, eu nunca nem tinha escutado falar sobre essa cidade antes do convite. É claro que topei. Conhecer todos os lugares, dos famosos aos anônimos, é o lema de qualquer viajante que se preze. Eu não sabia nem o que esperar e já que tinha toda essa atmosfera de inesperado, preferi nem pesquisar e me surpreender. E que surpresa boa!

Pegamos um ônibus em Santiago e depois de 8h de viagem chegamos a La Serena. A cidade é relativamente grande, possui mais de 200 mil habitantes, localiza-se ao norte do país e é banhada pelo Pacífico. Porém não a exploramos muito, ao chegar na cidade litorânea já pegamos outro ônibus para uma vila ao derredor.  Chegamos antes do amanhecer, esperamos o sol nascer e nosso ônibus chegar, enquanto conversávamos sobre a existência de Deus e a fé na humanidade, assuntos propícios para alvoradas.

Fomos para Vicunã, cidade natal de Gabriela Mistral, uma poetisa, educadora, diplomata, feminista chilena e primeira ganhadora do Nobel de Literatura da América Latina, em 1945. Uma importante figura que é reconhecida e admirada por todos os nativos.  Lá se encontra um museu com sua história, algumas obras manuscritas e objetos pessoais.

Visitamos o museu, é claro! E fomos inspiradas por essa grande mulher. Depois da visita,  alugamos duas bicicletas e resolvemos conhecer os cantinhos da cidade. Fizemos uma rota de aproximadamente 10 km, passando por uma fábrica de pisco, bebida típica chilena que se assemelha a nossa cachaça, a uma cervejaria artesanal chamada Guayacan e a uma pequena exposição de artesanatos. Todo o trajeto rodeado pela cordilheira dos andes e por plantações de uva. Um passeio simplesmente libertador. Não tenho outra palavra para descrever que não seja LIBERDADE.

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No outro dia, pegamos uma carona e fomos para o Valle del Elqui, uma vila mística, cortada por um rio transparente e por árvores centenárias. Caminhamos pelo vale e almoçamos em uma escola, única escola do povoado, que estava oferecendo um almoço beneficente. Era o tipo de evento totalmente intimista, onde todo mundo se conhecia. Lá, os próprios moradores fizeram a música, tocando músicas folclóricas e danças espontâneas. As crianças corriam despreocupadas, e mesmo que todos os que estavam presentes se conhecessem e soubessem que éramos turistas nos trataram como se fôssemos nativas, como se nos conhecessem de longa data. Colocando vinho em nossos copos e curtindo de tal forma o domingo em família, que nos incluíram em seu mundo sem maiores preocupações ou curiosidades.

Poema que descreve o sentimento

Esse final de tarde podia ser descrito como um poema da Gabriela, onde ela afirma que em um entardecer sente a vida fugindo, quieta e doce, como uma gazela:

“Siento mi corazón en la dulzura
fundirse como ceras:
son un óleo tardo
y no un vino mis venas,
y siento que mi vida se va huyendo
callada y dulce como la gacela”

“Sinto meu coração na doçura
se derreter como cera
é um óleo lento
e não um vinho minhas veias,
E sinto que minha vida vai fugindo
quieta e doce como a gazela”

Depois dessa experiência única, voltamos para La Serena. Nesse final de semana em especial, o Chile disputaria o final da Copa América Bicentenária contra Argentina. Jogo marcado por muita rivalidade entre as seleções. Assistimos o jogo em um bar à beira-mar.  As ruas estavam desertas na cidade. Todo o país parou para assistir.  Nos pênaltis, o Chile venceu, quando Messi errou o gol que definiria o campeão. Os gritos eram incessantes, a festa era geral! Todos nas ruas com tambores, buzinas, gritos e todos juntos faziam o coro: “CHI CHI CHI LE LE LE, Viva Chile!”.

A festa nas ruas fechou com chave de ouro um final de semana perfeito e surpreendente. Destinos desconhecidos são palcos de grandes aventuras também.  E eu estava sempre tranquila em todas as peripécias, já que antes de sair do Brasil eu fiz um seguro viagem.

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