24 horas em Byron Bay e o sentido real de viajar

14 de julho de 2020
Jade Rezende

Byron Bay tem 30 mil habitantes. A cidade é só um pontinho da costa leste australiana, no estado de New South Wales. Mesmo assim, em exatas 24 horas sozinha na cidade eu tive a melhor experiência dos meus dez dias na Austrália.

A cidade nem estava no meu roteiro original. Decidi ir para lá depois de um bom papo com o Bruce, um taxista canadense na casa dos 60 anos que me levou para o aeroporto de Sydney. Ele me disse que, com 10 minutos de conversa, já tinha percebido que Byron Bay era a minha cara. E por que não confiar meu roteiro de viagem em um completo estranho, né?!

Antes de ir para Byron, eu estava em Gold Coast, outra cidade da costa leste australiana. Para ir de um lugar ao outro, peguei um ônibus no aeroporto de Gold Coast, que fica a cerca de 90 km do meu próximo destino. A passagem custou cerca de AU$25 e cheguei na cidade com duas horas e meia de viagem. Também existem outras rotas de ônibus, que saem Brisbane e Sydney.

Cheguei em Byron no começo da tarde e fui direto para o hostel. Fiquei hospedada no Backpackers Holiday Village, com diária por volta dos AU$35, preço médio dos hostels da área central. Aliás, hostel é o que não falta em Byron Bay! Nas ruas do centro da cidadezinha é possível ver inúmeras hospedagens do tipo, todas lotadas de jovens.

Os hostels e os jovens dão a primeira impressão da cidade, que é, de fato, tudo aquilo que você espera depois de ler qualquer coisa sobre Byron Bay. A cidade foi um reduto hippie da Austrália nos anos 70 e, até hoje, carrega o clima tranquilo e descolado. A cultura do surf também contribui para a carinha “good vibes” da cidade, que tem uma van carregando pranchas e alguém tocando violão a cada esquina.

Foto: Jade Rezende
Foto: Jade Rezende

Meu primeiro ponto de parada foi a Main Beach, a praia principal de Byron. O caminho do hostel pra lá, de 10 minutos a pé, já foi encantador. A Jonson Street, a rua principal do centro, é um resumo da vida em Byron Bay: restaurantes de comidas saudáveis, hostels, lojas e feirinhas de souvenirs, bares com música ao vivo, lojas de produtos de surf e nenhum prédio, apenas construções baixas com arquitetura bem “praiana”. 

Passei a tarde na praia, que não tem nenhum comércio e fica dominada pelos surfistas. Almocei em um restaurante lá por perto e fiquei o resto do entardecer no gramado principal em frente a Main Beach. Esse gramado é um dos xodós dos locais e dos visitantes da cidade, que estendem suas cangas e acompanham o fim de tarde de frente para o mar, ouvindo música, fazendo um piquenique e apreciando o clima tranquilo de Byron.

Crédito: Jade Rezende

O sábado em que cheguei em Byron Bay era véspera do Australia Day (26/01), dia nacional oficial da Austrália. A data é muito comemorada pelos australianos, que saem nas ruas com roupas e acessórios da bandeira nacional e festejam o marco histórico da chegada do primeiro colonizador britânico no país. As comemorações ocorrem durante o dia 26 e na noite do dia 25. Por isso, conhecer a vida noturna da cidade naquele sábado a noite era um programa mais que obrigatório. 

Minha primeira parada da noite foi o Woody’s Surf Chack, um bar bem jovem que tem a vantagem da entrada grátis e do horário de funcionamento, que vai das 20h da noite às 3h da manhã. Sim, isso é tarde para a Austrália! A maioria dos bares e baladas do país abrem mais cedo e fecham por volta da 1h da manhã, por lei. 

O Woody’s é um bar divertido, com diferentes ambientes que contam com pebolim, sofás, mesa de DJ e uma decoração completa de praia e surf. Como em qualquer casa noturna de destinos com muitos mochileiros, você rapidamente faz amigos e encontra um grupo para passar o resto da noite — foi o que aconteceu comigo! Fui sozinha para o bar e, em menos de uma hora, já estava combinando a segunda parada da noite com um grupo de meninas que estavam viajando juntas.

Nosso segundo round foi no Cheecky Monkey’s, o queridinho dos mochileiros de Byron Bay. O bar e restaurante fica a poucos metros do Woody’s, também na rua principal da cidade. Essa casa noturna tem mais cara de balada, com ambiente escuro e música alta. A noite ficou ainda mais animada por lá, com drinks, boa música e novos amigos. O bar, de fato, tem razão para ser o favorito dos mochileiros!

No domingo de manhã, acordei cedo para conhecer o principal ponto turístico de Byron Bay: o Cape Byron Lighthouse. A área do farol, além de carregar seu valor histórico e cultural, tem os visuais mais bonitos de Byron. A atração já começa no caminho até o Cape Byron, que pode ser feito por uma trilha (Lighthouse trail) de cerca de 4 quilômetros com vistas deslumbrantes. Como eu não tinha muito tempo na cidade, resolvi ir de carro para economizar tempo. Ao chegar no local do farol você já se depara com a paisagem azul incrível do mar da costa leste. Antes de explorar os visuais da descida do local até a praia, fui ao farol propriamente dito para conhecer sua história. 

Foto: Jade Rezende
Foto: Jade Rezende

O farol de Cape Byron foi ligado pela primeira vez em 1901 e funciona até hoje. Ele começou a ser construído no final do século 19 para orientar e proteger as embarcações que passavam ao longo da costa e foi operado por faroleiros que moravam no próprio local até o ano de 1989. 

Os faroleiros tem um grande valor cultural para Byron Bay. O pequeno museu que existe dentro do farol conta a história e o estilo de vida criado por vários desses profissionais que tomaram conta e moraram no farol Cape Byron durante décadas. 

Foto: Jade Rezende

Depois de conhecer a história, segui o final da trilha que desce do farol até a praia. Essa descida, e toda a área do farol em si, é o ponto mais oriental da Austrália. Sobre o caminho e as paisagens, não há palavras que descrevam. Acredito que as fotos falam por si só:

Foto: Jade Rezende
Foto: Jade Rezende
Foto: Jade Rezende
Foto: Jade Rezende

O azul do céu se mistura com as águas do mar e à vegetação da costa, formando um cenário completamente deslumbrante. Como bônus, se você tem tempo e paciência de sentar e aguardar, é possível ver golfinhos e baleias passeando pelo mar! (Eu, infelizmente, não tive tempo e acabei não vendo esse espetáculo!)

Depois de realizar o fim da trilha e ficar bons minutos admirando aquele cenário, almocei na lanchonete do farol e voltei para a cidade para finalizar minha visita em Byron Bay. E meus últimos momentos por lá não poderiam ter sido mais incríveis… 

Como eu disse, aquele domingo era o feriado nacional do Australia Day e muitas comemorações aconteciam pela cidade. Na Main Beach, especificamente, a comemoração foi diferente. Acontecia por lá um festival da cultura dos aborígenes, os povos indígenas nativos da Austrália.

Foto: Jade Rezende
Foto: Jade Rezende

Como os colonizadores ingleses chegaram no território na segunda metade do século 18 e exterminaram grande parte desses povos, o Australia Day também é conhecido como Invasion Day (dia da invasão) por muitas pessoas, principalmente pelos aborígenes. 

O festival, organizado pelos povos Bundjalung, aborígenes nativos da região norte do estado de New South Wales, contou com apresentações de música e dança típicas, venda de artigos produzidos pelos indígenas e conversas sobre a importância da existência daquele povo. O objetivo do festival, segundo um dos organizadores, não era lutar contra o governo e o dia nacional da Austrália, mas sim celebrar a sobrevivência da cultura aborígene. 

Vídeo: Jade Rezende

Finalizar minha passagem por Byron Bay, e pela Austrália, naquele festival foi muito importante para mim. Depois de viver as celebrações do dia nacional do país em festas sem saber de significados históricos, passei o dia conhecendo a cultura e história do povo que verdadeiramente originou e pertence àquele país e até hoje é discriminado. O povo que totalizava aproximadamente 750.000 indígenas, subdivididos em 500 grupos e com cerca de 300 dialetos diferentes. O povo que foi exterminado por colonizadores séculos atrás e hoje representa cerca de apenas 1% da população australiana.

E viajar é sobre isso. É sobre ver paisagens deslumbrantes, conhecer pessoas, se divertir… Mas, acima de tudo, lembrar que os lugares incríveis que sonhamos em conhecer são formados por pessoas com histórias, culturas e valores próprios que devem ser protegidos.

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